quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Há fêmeas côncavas de silêncio
pontes que se atravessam pouco a pouco
lençol poema de orvalho quase gelado
na cadência das luas que ficaram

nascem na primeira carne
palavras abertas

gemem estreitos caminhos fechados

um rio atravessa órgãos poderosos
e enquanto estou ouço-me chão a abrir
de fervor completo e soterrado

esse olhar cercou-me com os olhos
ironia a doçura irreprimível

nada pode parar o corpo no meio de um instante
iludir qualquer promessa de rios sossegados
ousar o contrário dos dias
e o fantástico mundo profundo em círculos
onde se abrem deltas lábios de desejo

quero dizer
estaremos sempre lá no lugar das fêmeas
do silêncio.


in Magalhães, Graça (2006), Na memória dos pássaros, Palimage

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