domingo, 2 de dezembro de 2007

(a casa do diabo)

roda-viva nos subúrbios da cama
em cena:
como maestro a cavalgar no abdómen da partitura,
sorri o diabo de três
narinas...
os malmequeres tingiram os lençóis, é
manhã...
sai sorrateiro cheirando o vinho queimado,
ouvindo os pássaros a engolirem
o enjoo do sol
que ensonado reafirma a muralha do verão.
desfila o grão do pólen, gira espinhoso e sangra no último
pesadelo do portador das chagas.
três gerações de carneiros selvagens,
enigma triangular inchando no mudo monólogo
da refeição nocturna.
curvilínea corte... deslizar por entre os poros;
amar as vestes por beijarem o corpo
contornando as estrelas;
convocar a poeira dos ossos para alimentar a canção nascida
do desespero dum grito diurno
que coroa o heroísmo crucificando o coração azul da vila
taciturna... queimar o vinho
já negro,
pois a cólera do mal a parir reconforta os amantes
e destroi as térmites que pouco a pouco esburacam
as estrelas.
a rampa de pele a subir,
tentando adivinhar o peso dos insectos que desfolham as
páginas do vapor mordente
de água quente, água solar
para beber enquanto se remói a angústia lunar...
regressa velho o mestre assexuado,
expira de arrogância e o coração azul ilumina
as mãos calejadas
que encurralam o anémico grão de pólen sagrado.
amar o que de bom se contorce perdendo o tom;
queimar uma vez mais a partitura de pele...
dura amnésia ao beber na nascente que une os corpos
- a casa do diabo é a lagoa
onde morrem as estrelas.
in Brandão, Porfírio Al (2005), Moral Canibal, Palimage Editores

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