quarta-feira, 5 de março de 2008

PLÁTANO

vejamos a grossura da linguagem oculta
esse velho soldado vegetal
petrificado na pequena praça
um estandarte de anéis expeditos
cravado no rodapé da história
um marco bélico de insígnias benignas
saudemos com ele a fúria protocolar das estações
mordamos em sua honra
as milimétricas peças do grande relógio
porque a nossa robustez está no equilíbrio dos sentidos
no complexo sistema de vagões celulares

a sintonia carbónica lambe a efemeridade do futuro
cintila nas sílabas que o tempo trauteia
assim se engrossa esta linguagem a nós oculta
num primeiro olhar
(premonitória herança do dilúvio)
a linguagem ao sabor da folia de espectros inesperados
armadilhas arquitectadas aqui e ali
pelos anões que descansam
por turnos
nas ramagens mais gordas das árvores

celebremos este lugar
que o plátano há tantos anos come
há tantos anos digere sem perder firmeza
tonificando resplandecente
as folhas os ramos
os nós da camisa implacável
há tantos anos preso à cinérea jovialidade

celebremos esta praceta
atentemos na côncava alegria vinda dos espectros
– um gigantesco olho-de-mosca granítico
apontado ao céu

Porfírio Al Brandão [2008]

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